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  • Foto do escritorSuely Romero Hauser

Frida Kahlo e a dor de amar


Frida Kahlo, nome artístico de Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón, nasceu na vila de Coyoacán, no México, no dia 6 de julho de 1907, foi uma pintora mexicana conhecida por seus autorretratos de inspiração surrealista e também por suas fotografias.

Recentemente, fui assistir ao espetáculo “Frida Kahlo — Viva La Vida” dirigido por Cacá Rosset e encenado pela maravilhosa atriz Christiane Tricerri em São Paulo e fiquei ainda mais interessada na biografia dessa artista.

A partir do texto do também mexicano Humberto Robles, a protagonista da peça é apresentada como uma mulher humanizada que sofreu, amou e viveu, apesar de tudo, mas que encontrou na pintura surrealista o seu refúgio. Frida nunca creditou a suas obras o caráter surrealista definidos pelos também artistas André Breton e Salvador Dalí. Antes, Frida afirmava que não pintava sonhos, mas sua própria realidade dura e cruel. Ela também nunca foi uma ativista pelos direitos da mulher e nem dos comunistas, características atribuídas a ela em pleno século XXI quando sua imagem é usada comercialmente.

Mas, quem foi Frida nos bastidores do seu leito onde permaneceu grande parte da vida? O seu ponto de vista para a criação de seus quadros era a cama onde permanecia a contragosto por incapacidade física. Suas dores eram intensas e talvez a maior dela não tivesse sido diagnosticada por médicos ou percebida por aqueles que a rodeavam. Frida sofria de amor, um sofrimento que mata lentamente, causa rasgos e feridas que emplastos não dão conta de cicatrizar ou curar. Sua dependência afetiva era real e tirava dela a alegria.

Diego Riviera, seu marido e algoz, foi seu pior acidente. No diário que ela escreveu, a pintora afirmava que sofrera dois grandes acidentes na vida: o bonde que a tornou estéril e inválida e Diego que, sem dúvida, foi o pior deles. Sim, a mulher que amava esse homem, que a traía constantemente com outras mulheres numa sociedade que validava esse comportamento como aceitável e próprio da natureza masculina, cometeu o pior dos atos ao se relacionar com a irmã mais nova de Frida, Cristina Kahlo, e com quem teve seis filhos.

Frida, em decorrência do acidente com o bonde, teve seu útero perfurado e por isso sofreu três abortos e nunca pôde dar ao amado um herdeiro, um Dieguito como ela se referia àquele pretenso filho. Muitas cirurgias e uma perna amputada foi o que ela conseguiu de concreto. Muita dor para uma só pessoa. Por que Frida? A SoFRIDA Kahlo.

Mas não é a tragédia pessoal de Frida que mais me chama à atenção embora reconheça que ela foi uma pessoa que teria todos os méritos por ter suportado o que precisou viver. Também não a considero uma militante feminista, rótulo que usam para comercializar os produtos ligados a sua imagem e ideologia. Não, Frida não lidaria bem com essa prática capitalista que se contrapõe à sua luta pelo comunismo. Penso até que esses ideais, bandeira que ela levantava, foi uma das formas que ela encontrou para fazer parte da vida do marido e amor Diego Riviera (1886–1957) considerado um dos maiores artistas plásticos mexicanos do movimento denominado Muralismo Mexicano, o qual usava grandes murais como expressão artística em contraponto aos usos de pinturas em cavaletes.

Riviera era considerado um homem de espírito polêmico, ateu e comunista. Suas obras faziam referência ao nacionalismo e os conteúdos social e cultural e relacionavam-se à história do povo mexicano. Ele também colaborou com a fundação do Partido Comunista Mexicano. Um homem apaixonante, mas não apaixonado. Frida deveria ter se encantado pelo que ele representava e viveu à sombra do grande homem que ela tentava acompanhar. Ele não a enxergava. Ela o via com os olhos de quem ama demais e não percebe quando o amor está matando, machucando e anulando a mulher.

Esse viés da guerreira que foi capaz de suportar uma vida de dores físicas não foi forte o suficiente para dar um basta a esse amor que a subjugava. Sim, ela usou subterfúgios para lidar com a ausência do marido e amante por quem fora subestimada e desrespeitada como pessoa. Ao se relacionar com a própria cunhada, ele demonstrou o total desprezo que tinha por ela. E não se pode isentar a irmã dela da culpa de ter aceitado ou se deixado enredar por um relacionamento assim. Perverso. Mas Frida lidou com essas traições e desventuras com amantes, incluindo mulheres, uso de álcool e usou a arte a seu favor. Suas pinturas eram exageradamente fortes para uma mulher que por dentro era frágil. Ao ver as telas pintadas por ela, sente-se a dor que lhe habitava. Por isso, há quem não aprecie seus quadros, mas respeite sua dor. São figuras assustadoras, cores fortes e marcantes. Uma impressão de que a angústia gritava na tela pintada sobre um leito de impossibilidade de ser quem gostaria.

Por isso tudo, acredito que é muito pouco atribuir ou usar a imagem da grande artista e mulher Frida Kahlo como símbolo de feminismo, liberdade sexual, surrealismo, deficiência física ou qualquer outra bandeira que queiram que seja levantada em seu nome. Não, Frida foi além disso.

Frida não foi tudo o que queria ser, mas o que pôde ser. Talvez seja essa uma das considerações que seja necessária ainda esgotar. Numa pesquisa breve no Google sobre a artista mexicana, é possível encontrar informações das mais variadas que versam sobre todos esses universos e tantos mais. Ela nos deixou esse legado, uma liberdade que ousou viver, mas que se pautou num único tema Diego Riviera, razão de tudo o que fez.

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